A violência doméstica praticada contra a mulher deixa feridas emocionais. As feridas emocionais não são perceptíveis a olho nu como escoriações e hematomas, mas são visíveis no fundo dos olhos, dentro da alma. As feridas são percebidas nos olhos da mulher vítima de violência doméstica como uma tristeza profunda, um olhar assustado, uma evitação no olhar e a aparência de uma pessoa triste. Muitas vezes a tristeza é disfarçada pela maquiagem ou atrás de um óculos escuro, o disfarce tenta encobrir os lábios trêmulos, as mãos frias e a angústia que arde no seu peito.
A violência psicológica pode começar de uma forma muito sutil, dificilmente compreendida por uma pessoa leiga, por meio da desconfirmação psicológica – um processo em que o agressor por diversas vezes diz a mulher: “Você está louca!”, “Isso é coisa da sua cabeça.”, Você está vendo coisas que não existem.”, “Você distorce os fatos!”. O agressor semeia dúvidas e incertezas na cabeça dela e ela começa a se sentir insegura e confusa, desconfiando dos seus próprios sentimentos, percepções e interpretações de fatos ocorridos no relacionamento.
O agressor percebendo que deixou sua vítima confusa e insegura a obriga a pedir desculpas ou reconhecer que era ela que estava errada, ele sente que está no controle da situação, que é ele quem comanda o que ela pensa, sente e interpreta fatos. O agressor convencido de seus superpoderes de dominação da vítima menospreza a mulher fazendo-a se sentir estúpida, burra e incapaz, sem força para reagir se submete a uma convivência baseada na crença de que “ruim com ele, pior sem ele”.
A mulher vítima da violência psicológica se sente desacreditada, humilhada e desvalorizada, passando a sentir as dores das feridas emocionais no cárcere da sua própria alma, cheia de dores emocionais e sem condições de cuidar das feridas, vai sendo consumida pelo sofrimento psicológico. O sofrimento psicológico leva a vítima ao adoecimento psíquico desenvolvendo transtornos de ansiedade, depressão, personalidade até quadros esquizo afetivos, ou seja, o agressor desconfirmando a vítima a fez acreditar que estava ficando louca e ela adoece perdendo a autoestima e autoconfiança. A mulher vítima de violência doméstica não é apenas aquela que foi estuprada e/ou agredida fisicamente, mas também, pode ser aquela que sofre sozinha com feridas que só ela pode ver.
Autor: Eduardo dos Santos Vieira – Psicólogo
Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos – Mato Grosso